Apoiado pelos eleitores indignados com o abandono total da cidade, Salvador elegeu novo prefeito que assumiu em janeiro. Os desafios são enormes, face às tantas necessidades da população e ao tempo transcorrido sem qualquer projeto ou investimento público. Mas crise pode gerar soluções inusitadas. Há, de fato, ações prementes e emergenciais a serem implantadas de imediato – tão básicas quanto recolher o lixo das ruas, ou tentar organizar o trânsito. Mas, para além desses incômodos cotidianos, há, principalmente, a necessidade de desenvolver um plano estratégico para o futuro e para o desenvolvimento desta que foi a primeira capital do país, e é especialista em felicidade e hospitalidade. Torço, assim, para que essa nova gestão olhe para o potencial natural da cidade, que está ligado à produção musical e artística, ao turismo e à economia deles decorrente. Essa indiscutível vocação para produção de arte e de conteúdo, que parece simplesmente brotar das ruas, precisa ser incluída como prioridade da gestão pública e de suas políticas. Não para direcionar, classificar ou escolher, mas, para oferecer caminhos de formação, organização, distribuição, divulgação, e fortalecimento, gerando, assim, a implantação de uma indústria criativa com impacto econômico relevante. Experiências contemporâneas vividas por outras cidades têm demonstrado que o investimento e apoio às atividades artísticas e criativas geram desenvolvimento, empregos, sustentabilidade, auto estima, e a inclusão das comunidades. Em muitos casos, coloca a cidade no mapa de destinos do mundo. Ou seja, o investimento público em atividades da economia criativa gera não só emprego direto de suas atividades, como impacta no fluxo de turismo para a região, com desenvolvimento social, cultural, urbanístico e econômico. O caso do Museu Guggenheim é emblemático. A implantação do Museu em Bilbao mudou a história da cidade, que enfrentava crise econômica e estrutural. Foi construído pela gestão pública apesar da descrença de grande parte da população, e converteu Bilbao em destino para massa de turistas internacionais. Esse caso demonstra como o investimento em um espaço cultural criou, de fato, emprego, transformou a região, e gerou riqueza da mesma forma que faria a instalação de uma fábrica, mas com impacto bastante diverso para a população. E Salvador precisa de um Guggenheim? Provavelmente, não. Mas, a cidade precisa de um projeto novo e pode aprender com essa e tantas outras experiências que permitiram a requalificação de bairros e de patrimônio histórico, a transformação de cidades em cenário de filmes, ou a implantação de pólos de criatividade. A partir dessa observação e aprendizado, criar seu próprio modelo de desenvolvimento. O principal e mais difícil insumo, que é a criatividade, já existe na cidade. Cabe, agora, agregar políticas que, usando talentos locais (soteropolitanos de nascença ou por opção), repensem e proponham novas formas de gerar riqueza e bem estar para os cidadãos. Uma Salvador nova, parecida com aquela antiga que produziu tantos artistas e pensadores, mas com projeto estratégico de médio e longo prazo.