Willian Galdino Advogado, sócio  do escritório Olivieri e Associados. Especialista em Direito do Entretenimento, atuando na área  de direito cultural há mais de 15 anos.

  Até o início da pandemia, a tecnologia para o uso massivo da Realidade Virtual (RV) era vista como um futuro bastante distante, não apenas pela indisponibilidade de equipamentos e de abrangência suficientes para implementação instantânea, mas também pela resistência inicial do consumidor. Além disso, era vista como um elefante branco no meio das possibilidades mais conhecidas dos outros meios existentes para comunicação, publicidade e consumo de cultura. Contudo, o momento atual, que representa uma luta quixotesca contra um vírus invisível, colocou toda a cadeia econômica da cultura e do entretenimento em compasso de espera, uma vez que são condicionadas ao palpável, ao presencial e ao agora. Assim, a transição para o digital nunca se fez tão importante como nesse momento. Na verdade, tornou-se uma questão de sobrevivência. Estudos realizados em 2019, diziam que, em um período de 3 a 5 anos, os equipamentos de RV estariam mais bem desenvolvidos, mais baratos e onipresentes em todo o mundo. Mas, podemos concluir que, face a aceleração vertiginosa no desenvolvimento e uso dessas tecnologias por conta da atual demanda, esse tempo será bastante reduzido. A grande maioria dos bens de consumo utilizados como matéria prima do progresso podem ser substituídos, mas nenhum deles realmente avança sem cultura, tornando a criatividade a matéria prima essencial para a criação do futuro. É prioritário, portanto, que neste momento sejam desenvolvidas políticas, que estimulem e permitam que, em um futuro próximo, a tecnologia esteja extremamente desenvolvida, que se possa distribuir conteúdo de forma massiva, imersiva, democrática e universal. Para tanto, legislações precisarão ser revistas e os grandes meios de comunicação precisarão entender que é um caminho sem volta. Em face do isolamento, a criação de conteúdos em casa, com o uso de novas plataformas, será o catalizador necessário à integração e convergência de meios de comunicação e tecnologia essenciais para que a cultura possa se expressar para além do mundo físico. Assim como na obra de Cervantes, que mistura fantasia e realidade, o uso de tecnologias de disponibilização digital, como a RV, permitirá que a cultura e a criatividade expandam para mais uma alternativa viável e criativa para os tempos que vivemos. O modelo de consumo de cultura mudou. A digitalização é o caminho que permitirá a escalabilidade e que o acesso à cultura seja mais amplo e inclusivo. Será criado, a partir de agora, um novo paradigma, que rompendo com o convencional, possibilitará a distribuição democrática de conteúdos, o acesso universal e uma integração nunca vista. Esse poderá ser o saldo positivo do isolamento. Esperamos que o desenvolvimento de políticas públicas para aglutinar essas tecnologias seja ousado o suficiente para permitir que a cultura produzida no futuro seja, além de acessível, também feita em compasso com as ferramentas desenvolvidas pelas sociedades contemporâneas.