O progresso econômico não é mais atribuído ao acumulo de capital físico, mas ao capital humano e social. Em outras palavras, ao nível do conhecimento cultural acumulado por povos e sociedades que, ao longo do tempo, dependem da taxa de sua criação. Desta nova perspectiva de cultura em geral, e da economia em particular, a mais importante, apesar de menos estudada, é a criação. (Creative Industrie and Economic Competitiveness - José Ramón Lasuén, in www.compete-eu.org)
Os grandes festivais e turnês internacionais são, em regra, realizados nas grandes capitais que oferecem, entre outras coisas, estrutura, serviços especializados, espaços adequados, além de condições de receber públicos de várias regiões do país, ou seja, oferecem capital físico. Contudo, a produção cultural e os processos criativos não dependem nem deste capital nem dos grandes centros para que se realizem com conteúdo, sucesso e profissionalismo. Ao contrário, quase sempre o diferente vem de fora. Talvez, o mais conhecido exemplo de grande evento fora de Salvador seja o São João, que acontece todos os anos em vários municípios do Estado, alcançando um número de pessoas muito maior que o Carnaval. Mas, fato é que, além deste evento anual de proporções gigantescas, milhares de processos criativos e de produções de qualidade, muitas vezes invisíveis para o mainstream, são realizadas fora das capitais. A invisibilidade está, em grade parte, ligada a dificuldade de acesso aos canais de distribuição e de divulgação para o artista e produtor, que deve ser driblado com competência e com os recursos da modernidade. Hoje, mais do que em qualquer época, pelo acesso tecnológico, o produtor ou o artista podem, de um ponto solitário e em qualquer lugar do mundo, aderir ao formato digital de produção e distribuição. As características desta nova economia demonstram que profissionais liberais ou de produção independente, e que atuem no processo criativo, podem se viabilizar e ter um espaço importante na sociedade e na economia, apenas com o uso otimizado das ferramentas de tecnologia e de conectividade. Distribuem, assim, o que realmente tem valor - seu capital social e humano. A inclusão dos produtores culturais pelo potencial criativo e acesso tecnológico permite seja estabelecida competitividade assimétrica, na qual o micro empresário compete de fora do eixo (e muitas vezes com vantagem) com grandes conglomerados. A propriedade da logística, a localização, e a distribuição eficiente, que eram diferenciais decisivos para validar as grandes empresas, ficaram minimizadas com a distribuição online e em tempo real, com o uso de tecnologia que, cada vez, é mais acessível e barata. Ademais, os grandes centros, por vezes, não permitem que o processo criativo tome seu tempo para a reflexão, para o amadurecimento das idéias, para a criação do particular e da inovação. Alguns teóricos defendem que a revolução vem sempre da periferia. E olhando para a história das artes brasileiras (ou baiana), vemos que muitos de nosso ilustres conhecidos de hoje (e atuais moradores de grandes centros. Inevitável!) vieram de cidades que só entraram no mapa graças à esses sujeitos criativos! Afinal, o que seria dos grandes centros sem a presença genial e revolucionária de Bethania, Caetano Veloso, Glauber Rocha, Ivete Sangalo, João Gilberto, Jorge Amado, Moraes Moreira, Othon Bastos, Tom Zé,i... e tantos outros que vieram de fora!